Mr.Tony
10月 21、2025

Tinha que ser um gato pernambucano.Foi por isso que naquele verão de 2002 em Porto de Galinhas eu saí pela vila perguntando se alguém sabia de uma ninhada.Me levaram até um terreno baldio e os filhotes estavam escondidos no meio do entulho e do lixo.Escolhi o que parecia mais fraco, olhei pra ele e disse:- Vou te chamar de Tony.
No dia de ir embora seguimos eu, minha mãe e o Tony pro aeroporto.
Pedi pra minha mãe arranjar uma caixa de papelão pro bicho e ela aparece com uma caixa da cachaça Pitú, a caixa passa pelo raio-x e ninguém fala nada.Entro no avião com a caixa de Pitú e um berimbau nas costas.As portas se fecham e nessa hora o Tony, que estava quieto até então, enlouquece.
A aeromoça vem até meu assento e pergunta:-O sr. tem um gato aí?
O Tony responde MIAU.
-O Sr. tem 2 opções: Ou desce o gato ou descem vocês 2.
Respondo na hora: Descemos os dois!
Foi assim que tudo começou.
Em dezembro de 2017 o Tony morreu depois de uma longa vida comigo.No último ano ele me viu atravessar um câncer, uma quimioterapia, um divórcio e me separar dos meus filhotes e por pouco não me viu fechar as portas da loja a qual eu havia dedicado tanto tempo, trabalho e amor.
Voltei pra casa aquela noite e
encontrei ele escondido num canto, mais morto que vivo.
Era como se ele estivesse me esperando.Me sentei no sofá com ele no meu colo, acendi um baseado, botei minha mão nele e esperei.A respiração dele ficava cada vez mais fraca e irregular, ficamos os dois ali, eu pensando na vida, esperando ele parar de respirar. Naquele momento eu tinha todas as justificativas pra olhar pra minha vida e sentir pena de mim mesmo, mas não foi o que senti.No meio de todo aquele inferno o Tony morrer nos meus braços era uma benção.
Eu me lembro de olhar pra ele já morto e dizer: Porra Tony!!!!Porra!
Fui até o supermercado comprar gelo, voltei pra casa e guardei ele enrolado no pano preferido dele dentro de uma caixa térmica.
Dormi na sala mesmo, ao lado da caixa.No dia seguinte seguimos para o sítio.Enterrei ele num lugar que posso ver da varanda da casa.
Até hoje falo com ele quando sinto vontade e sempre falo:
-Você viu tudo Tony, você viu tudo.
As crianças se lembram de você.