HARI
Na sala de espera da maternidade senti vontade de escrever, e assim começei minha primeira "conversa" com quem é hoje uma menina de 10 anos chamada Hari:
"Você vai nascer hoje meu amor.
Não sei se você é um menino ou uma menina.Hoje será seu primeiro dia nesta terra e seu nome será Hari."
Ao longo das próximas 10 horas continuei escrevendo e contando pra ela tudo que estava acontecendo.
O que deve ser para uma mulher
dar a luz pela primeira vez?
Só ela sabe o que é sentir a profundidade e intensidade desta transformação física, mental e espiritual pela qual homem nenhum jamais passará.
Esta página se transformou em um diário com mais de 500.
Todas as noites durante 365 dias eu "conversava" com a minha filha e contava sobre o dia.
O diário foi o meu primeiro presente de aniversário pra ela.
O cotidiano seguia e ele pouco se importa se você acompanha ou não o passo.
Que mundo era esse que eu tentava explicar pra ela?Eu não podia falar sobre a vida como ela é, mas também não podia fazer ela pensar que chegou no vale encantado e que o ser humano é bicho manso.Todos os dias eu precisava encontrar uma coisa boa pra contar no meio de tanta coisa ruim que vemos o tempo todo.
E em alguns dias era tão difícil fazer isso e eu não queria mentir.
O que é a mentira, o que é a verdade?O que importa?
Entendi que a pior mentira era não dizer pra ela como eu estava me sentindo de verdade, era mentir sobre o meu mundo interno, meus sentimentos.
O tempo passou, senti vontade de desistir algumas vezes, inseguro e perdido com a mudança no meu relacionamento com a mãe, preocupado o tempo inteiro, em alguns momentos já não sabia se era minha filha que estava no meu ninho ou eu no dela.
Mas segui vivendo o que tinha que viver até a última página:
-Minha filha eu achei que poderia te ensinar alguma coisa mas quem acabou aprendendo fui eu.
Você será uma mulher com luz própria e vivera sua vida sem medo.Meu único desejo é que num dia triste você possa abrir qualquer página deste diário e sorrir.
Papai.